O post de hoje surge da leitura de um artigo de opinião publicado no Diário Económico da passada segunda feira.
Nele, o sociólogo Francesco Alberoni, sob o título “Catástrofe“, fala-nos de uma característica psicológica chamada resiliência.
Nesse artigo, Alberoni evoca os grandes momentos de crise que todos enfrentamos mais tarde ou mais cedo na vida.
Seja a morte de um ente querido, um problema de saúde ou um “trambolhão” na nossa carreira profissional, esses momentos têm sempre características comuns: a sensação de perda, a vivência de sentimentos contraditórios face a nós e aos outros, a potencial perda de auto-estima, entre outros.
Ou seja, aquilo que Alberoni caracteriza como catástrofe.
Destas situações podemos sair de duas formas:
a) ou numa espiral descendente, caindo potencialmente na depressão e cedendo às dificuldades;
b) ou numa espiral ascendente, enfrentando as dificuldades e reinventando-nos na adversidade;
Como já referi anteriormente num artigo de opinião – A Pesada Herança de Roma -, muito da nossa vida depende da nossa perspectiva da vida e da forma como ela evolui.
Se acreditarmos que o nosso destino depende fundamentalmente das nossas acções (e não de qualquer factor externo ou superior), tenderemos a resistir melhor às adversidades. Chama-se a isso em psicologia locus de controle interno.
Se aliarmos a isto a capacidade de desenvolver um auto-conceito robusto, em que conhecemos bem as nossas limitações e potencialidades, sabendo e conseguindo pedir ajuda nos momentos em que precisamos, então estaremos em condições de poder concretizar todo o nosso potencial de desenvolvimento. A isto Lev Vigostski chamou desenvolvimento proximal.
A conjugação destes dois factores permite potenciar a resiliência, que mais não é que uma atitude de superação, de reconstrução, só possível a quem desenvolva uma disciplina de auto-conhecimento, de humildade, mas também de ambição.
É um misto de sentido crítico, capacidade de análise e profunda vontade de ir mais longe.
Na verdade, aquilo que o Nelson Évora e a Vanessa Fernandes tão bem demonstraram nestes Jogos Olímpicos de Pequim, e que tantos outros atletas portugueses revelaram não ter.
Seja pela falta de ambição que alguns denotaram, seja pela reacção ao insucesso, algumas vezes traduzidas em declarações infelizes, quando não mesmo patetas (quem esqueçe o inqualificável comentário “de manhãzinha, só mesmo na caminha” de Marco Fortes?!! ), a verdade é que a nossa delegação olímpica acabou por nos deixar com uma sensação de amargo na boca.
Não sejamos no entanto injustos: a má impressão mediática que alguns provocaram não pode confundir-se com o comportamento exemplar de muitos dos nossos atletas olímpicos que, mesmo não ganhando medalhas, demonstraram brio e vontade de ir sempre mais além.
Que o exemplo do Nélson e da Vanessa seja inspirador para todos nós…
Assim concluo este breve post sobre a resiliência, característica comum a todos os talentos que conheço, voltando a recomendar a leitura do excelente artigo do também talentoso Alberoni.
Não nos esqueçamos que a resiliência não é um dom inato, mas sim algo que se pode aprender e treinar.
Vamos a isso? 😉