Recomendações, Trends

Roots of resilience: capitalismo criativo e ambiente

wrr_smUma breve nota para um post em que tropecei, intitulado “World resources 2008: roots of resilience – growing the wealth of the poor”.

Neste post é dado destaque ao World Resources Report 2008, do World Resources Institute, que foca a relação de interdependência existente entre a pobreza e a defesa do meio ambiente.

O desenvolvimento de resiliência económica, social e ambiental é defendida por via da criação de um novo tipo de empresas, orientadas para a defesa do meio ambiente, para a criação de prosperidade para os mais pobres e para a defesa do bom uso dos recursos locais, como agentes de mudança económica e social.

Esta via de transformação implica:

  • o ownership da gestão destas empresas por parte de membros das classes mais pobres (parte interessada na sua prosperidade e na boa gestão dos recursos locais);
  • a necessidade destas empresas terem a capacidade instalada de gerar negócios baseados na natureza e na defesa do meio ambiente, sendo todavia rentáveis;
  • o desenvolvimento de uma network entre empresas e stakeholders, comprometidos na defesa do meio ambiente como enabler da sua prosperidade

Esta nova perspectiva ganha grande complementaridade com as temáticas do capitalismo criativo e do microcrédito que já apresentei neste blog.

Novas tendências para o futuro, certamente…

Votos de boa leitura 🙂

Advertisement
Trends

The Girl Effect

Uma nota breve, inspirada pelo blog Ideias em Série, que há tempos falava sobre O Novo Efeito Borboleta.

A teoria do Efeito Borboleta basicamente postula que mesmo as mínimas acções têm impacto na envolvente, gerando consequências que podem aumentar exponencialmente de dimensão e percorrer distâncias assombrosas.

Esta é talvez uma das componentes mais celebrizadas da Teoria do Caos, já deu origem a muitas peças de escrita e até mesmo a uma peça cinematográfica, e pode ser ilustrada pela ideia de que o bater de asas de uma borboleta sobre Tóquio pode provocar uma tempestade em Nova Iorque.

O novo Efeito Borboleta que é apresentado neste post refere-se a um vídeo de uma organização chamada The Girl Effect , cuja visualização recomendo, e que gira à volta do que poderão ser as consequências mundiais resultantes do facto de ajudarmos uma jovem do 3º mundo a ter acesso a melhores oportunidades.

Este é pois um conceito e uma iniciativa que surge em linha com a filosofia do microcrédito, que já referi num post anterior, ou mesmo do capitalismo criativo, também já aqui referenciado.

Enjoy it 🙂 !

Reflexões, Trends

Capitalismo Criativo

Um recente artigo da Harvard Business School despertou-me o interesse sobre o tópico de hoje: capitalismo criativo.

O conceito torna-se objecto de forte discussão pública desde o famoso discurso de Bill Gates, feito em Janeiro passado no World Economic Forum, em Davos.

Nesse discurso, Gates afirma, no seu polémico estilo, que muitos dos grandes problemas mundiais não podem ser resolvidos através de filantropia, mas requerem em alternativa que as empresas e o mercado livre contribuam de uma forma nova para os resolver: daí o nome de “capitalismo criativo”.

Segundo o artigo da HBS, esta nova tendência cruza os ganhos financeiros com a contribuição social, num mundo que está em forte mudança, e em que as tendências são radicalmente diferentes das que vivemos num passado recente.

São cinco as grandes forças que levam ao emergir do capitalismo criativo, a saber:

  1. Recursos – actualmente, as empresas e o mundo dos negócios em geral são a maior fonte de recursos mobilizáveis para a resolução dos problemas de forma eficaz, a larga distância do Estado, das ONG’s ou das organizações religiosas;
  2. Procura – existe uma cada vez maior força de potenciais consumidores, cidadãos, votantes, líderes de opinião para quem a postura ética e a responsabilidade social são drivers de escolha e recomendação (o que vai de encontro ao que defendi no meu artigo Business Ethics). Por outro lado, existe um imenso mercado potencial de pessoas com poucos recursos, que necessitam de uma oferta específica para as suas necessidades. O exemplo mais marcante desta tendência é precisamente o fenómeno do microcrédito, que referenciei noutro post, em que se concede crédito a quem não tinha a ele acesso, devolvendo ao circuito do mercado milhares de empreendedores e futuros consumidores.
  3. Modelação Corporativa – a forma como as organizações se moldam e interagem entre si está a mudar radicalmente. Redes, colaboração e conectividade são buzzwords que simbolizam o quebrar das barreiras tradicionais (geográficas, organizacionais, legais). Sobre este tema já escrevi nos meus posts Web 2.0: a competitividade pós-capitalista e Inovação Colaborativa.
  4. Transparência – uma geração de novos cidadãos e consumidores globais e exigentes, cada vez mais informados online numa comunidade de conectividade permanente, exigem uma gestão cada vez mais ética e transparente, especialmente após os escândalos da Enron (cf. Business Ethics).
  5. Exemplo Inspiracional – cada vez mais pessoas valorizam líderes e organizações com valores, com uma conduta moral irrepreensível e inspiradora, com uma visão de longo prazo, que faça crescer quem os rodeia. No fundo, o grau de desafio e inspiração que refiro no meu post O Paradoxo de Ícaro.

No artigo da HBS, reforça-se o emergir destas tendências com os exemplos de companhias como a Southwest Airlines, a Google ou a Starbucks, que estão orientadas para satisfazer as necessidades de um vasto leque de stakeholders, que não apenas os accionistas. Um recente estudo demonstra que estas companhias cresceram em ROI cerca de 10 vezes mais que as companhias do S&P 500!

Para quem esteja interessado em aprofundar este tópico, recomendo o blog Creative Capitalism, que é uma fonte riquíssima de pensamento e informação.

Deixo ainda aqui dois vídeos de Bill Gates. O primeiro, breve (5 mins.), explica rapidamente o conceito de capitalismo criativo. O segundo, longo (+ 30 mins.), reproduz integralmente o discurso de Davos.

Enjoy it 😉

Reflexões

Microcrédito: afinal, onde estão os empreendedores?

Apesar de estar de férias, não consigo deixar, nem por quinze dias, a minha fiel “tribo” de leitores 🙂!

Assim, aqui vai mais um post, enviado directamente das quentes areias da praia da Comporta, suavemente acariciadas pelas frescas águas do nosso amado Atlântico… (Agradeçam a imagem ao João Leitão 😉 )

O post de hoje resulta de uma notícia que acabei de ler no Semanário Económico: ao fim de dez anos, já foram concedidos em Portugal mais de quatro milhões de euros de empréstimos em microcrédito!

Para quem não conheça o fenómeno, o microcrédito surge no Bangladesh, através da ideia de um visionário, hoje Prémio Nobel, de nome Muhammad Yunus. Para Yunus, era claro que muitas pessoas que estavam no limiar da probreza no seu país poderiam mudar substancialmente a sua vida se, através de um pequeno empréstimo, pudessem começar o seu próprio negócio.

Todavia, o grande problema que estas pessoas enfrentavam era o modelo de concessão de crédito tradicional, em que os bancos basicamente só emprestam dinheiro a quem já o tem em quantidade suficiente para garantir o pagamento das respectivas prestações.

Neste modelo, baseado num modelo económico de escassez e desconfiança, o empreendedorismo tem de andar a par da detenção de capital, ou então fica excluído.

E foi precisamente um modelo inclusivo aquele que Muhammad Yunus criou: um modelo baseado na confiança como motor de abundância e desenvolvimento económico.

Assim nasceu o microcrédito. Um modelo de concessão de pequenos empréstimos (no Bangladesh o empréstimo médio rondará os 150 dólares, aqui em Portugal não pode ultrapassar os 1500 euros), em que há uma apreciação cuidadosa do pedido, mas sem os critérios de exclusão tradicionais nem as asfixiantes condições de garantia habituais. Com este modelo nasceu o Grameen Bank no Bangladesh, vocacionado para o microcrédito, e que já tirou da miséria milhares de pessoas.

Em Portugal, o projecto do microcrédito, dinamizado pela Associação Nacional do Direito ao Crédito e pelo Millennium bcp, já permitiu criar 1341 postos de trabalho, apresentando uma taxa de sucesso de quase 85%!

Este é um dos factos mais notáveis: quem recebe crédito é bem sucedido na maioria dos casos, e é muito melhor pagador das suas dívidas que o cliente normal de crédito!

E porquê? Apesar de não haver estudos sobre o assunto, estou certo que a razão por detrás deste sucesso tem a ver com o sentido dos projectos. O que quero eu dizer com isto? Que o financiamento é feito para pessoas que acreditam num projecto, que valorizam a ajuda recebida, que por sua vez constitui fonte atribuidora de sentido para a sua vida.

E isto, na minha opinião, é um enabler fortíssimo da conduta moral dos indivíduos, bem como do commitment que colocam no que fazem. E tudo isto se consegue porque alguém acreditou neles…

Deixo neste post algumas reflexões e questões:

  1. Será a economia da abundância, baseada na confiança, a alternativa para o modelo económico actual?
  2. O espírito empreendedor não dependerá muitas vezes da força com que a vida questiona as nossas pequenas verdades, feitas para nos dar o conforto de acreditarmos que estamos bem se continuarmos na mesma?
  3. O talento e o empreendedorismo estão muitas vezes onde menos se espera, e não dependem nem da educação nem do capital (vejam os exemplos tocantes do Miguel Pinho, da Ana Maia e do Renato Luís no Semanário Económico desta semana!)

Termino com o exemplo inspirador de Muhammad Yunus, que descreve, da forma apaixonada e tocante a que já nos habituou, o projecto da sua vida; o microcrédito.

Enjoy it 🙂!