Li há dias uma peça da Harvard Business School intitulada “The value of a ‘Portable’ Career”. Recomendo vivamente a sua leitura pois dá-nos pistas valiosas, seja como profissionais interessados em gerir a sua carreira, seja como gestores profissionais de pessoas.
Nesta peça aborda-se o problema da “portabilidade do sucesso profissional”, ou seja, até que ponto um profissional bem sucedido numa organização consegue replicar o seu sucesso ao transitar para outra organização.
Todos sabemos como isso pode variar, e para isso basta relembrar a carreira de alguns futebolistas famosos 😉
Um dos aspectos relevantes assinalados é que as especificidades do trabalho que desenvolvemos pode reforçar ou enfraquecer a portabilidade da nossa carreira, uma vez que pode potenciar (ou não) competências facilmente valorizadas noutras organizações.
Por exemplo, ter um trabalho muito específico de um sector de actividade ou de uma tecnologia, restringe a nossa portabilidade a esse âmbito de especialização.
Pelo contrário, ter um trabalho que apela a competências colaborativas alarga o scope, mas obriga a um período de adaptação na nova organização que é muito maior. Porquê? Porque é preciso tempo para que o profissional estabeleça a sua nova base relacional de trabalho, que lhe permita cooperar e integrar-se nas networks existentes, ou mesmo construir a sua própria network.
Assim, quem contrata profissionais com uma base colaborativa para o seu sucesso passado tem de ter presente que terá um período de recuperação do investimento maior, mesmo que isso possa depois trazer um maior retorno.
Uma forma dos profissionais relacionais se defenderem dessa potencial desvantagem é alavancarem a sua base de sucesso numa network que extravasa a sua base organizacional de relação, ou seja, promovendo aquilo a que chamamos de extranetworking.
Se a nossa excelência profissional for alavancada na interacção com uma vasta comunidade de profissionais que ultrapassa as fronteiras da minha organização, eu enquanto profissional ganho valor percebido no mercado (e não apenas na organização) e ganho independência para mudar e agir, por via da minha maior empregabilidade, logo maior portabilidade de carreira.
É isto mau para as organizações? Não, de todo. A verdade é que está provado que quanto mais investimos na portabilidade dos nossos talentos, maior é a sua retenção – cf. o meu post O Paradoxo de Ícaro.
Votos de boa leitura 😉