Gostei de tal forma do que vi, ouvi e senti que não resisti: quinze dias mais tarde estava lá de novo, desta vez com o meu filhote mais velho, o Afonso. Achei que seria uma pena se ele perdesse a oportunidade de assistir a uma combinação tão poderosa de talento, beleza, arte, estética, traduzidos num melting pot experiencial que transformou completamente a arte circense no mundo.
Confirmei que estava certo: o Afonso hoje é fã do Cirque du Soleil e eu acabei por ajudar mais um pouco a apurar o seu sentido estético e a sua educação artística. Valeu a pena repetir a experiência, até porque o dinheiro gasto foi amplamente compensado pelo prazer da fruição estética e sensorial.
Também na perspectiva da gestão do talento o Cirque du Soleil é um caso excepcional, por várias ordens de razões:
a forma avassaladora como inovaram e reinventaram o espectáculo circense é hoje um exemplo incontornável de uma estratégia blue ocean (como tão bem me recordou uma talentosa aluna de MBA há bem pouco tempo 😉 ) – cf. o meu post sobre blue ocean strategies e o case study de Kim e Mauborgne sobre o tema;
O Mentes Brilhantes tem estado menos agitado nos últimos tempos, fruto da minha mudança de vida mais recente.
Após um trimestre sabático, em que me dediquei exclusivamente à actividade docente, resolvi finalmente regressar ao mundo das organizações, desta feita vestindo o papel do empreendedor.
É de facto completamente diferente quando temos de olhar para a gestão de um negócio na sua globalidade. A pressão para obter resultados deriva da responsabilidade que temos relativamente aos nossos empregados (e suas respectivas famílias). Esta pressão para os resultados convive com a pressão para entregar serviços de elevada qualidade, pela responsabilidade que temos para com os nossos clientes (razão de ser da nossa existência).
Este leque de responsabilidades e preocupações muda profundamente o nosso mindset (para melhor), aumentando a nossa percepção do que temos de fazer e levando-nos muitas vezes a descobrir o que somos capazes de verdadeiramente fazer (e muitas vezes nem sonhávamos). E este ímpeto superador é algo de extremamente valioso…
O desafio da Alter Via levou-me assim a descobrir coisas que nem sabia sobre mim próprio, como por exemplo o gosto que tenho pela actividade comercial e pela gestão dos negócios. O sentido que esta actividade hoje faz na minha vida é uma agradável surpresa, confirmando que, finalmente, faço aquilo que gosto, em vez de gostar daquilo que faço (e isto faz toda a diferença…).
Por outro lado, esta experiência confirma tudo o que tenho vindo a escrever sobre a gestão do talento neste blog: a equipa da Alter Via é um verdadeiro exemplo de elevada produtividade num ambiente de partilha, numa lógica de economia de abundância, por contraponto a uma lógica de economia de escassez.
A generosidade e abertura com que todos os elementos da equipa partilham conhecimento, aprendem uns com os outros e potenciam as sinergias resultantes da combinação dos seus diversos talentos são um exemplo refrescante de como podemos ser competitivos no mercado sem que tenhamos de estar eternamente a combater num “red ocean”, seja externo, seja interno – cf. o meu post sobre estratégias blue ocean.
Esteja em Lisboa, no Porto ou em Luanda, sei que a equipa da Alter Via lá está, a velar para que o barco chegue a bom porto, num trabalho em equipa ímpar, em que a alegria de atingirmos as nossas metas se sobrepõe à necessidade de afirmação de qualquer ego individual.
Valeu a pena mudar de vida.
Não porque me arrependa do que fiz ou vivi: cada segundo valeu a pena e foi fundamental para estar hoje onde estou!
Mas valeu a pena fundamentalmente porque a opção que fiz se revelou acertada, e justificou o risco de, em plena crise, o meu destino passar a depender apenas de mim em vez de continuar a depender de um “emprego” clássico.
É menos seguro e confortável? Sim. É mais recompensador? Sem dúvida!
Pode vir a correr mal? Talvez… mas isso está acima de tudo nas minhas mãos… e há que olhar o futuro com confiança 🙂 !
Espero que este testemunho possa inspirar ou encorajar outros potenciais empreendedores.
À equipa da Alter Via, o meu sincero obrigado 😀 !!!
Deixo-vos com dois pequenos vídeos do Tom Peters sobre empreendedorismo.
Ao ler hoje a edição de Agosto da revista Executive Digest, deparei-me com uma reportagem sobre a estratégia oceano azul, alavancada no exemplo do Cirque du Soleil.
Como acho que o Cirque du Soleil merece um post só para ele, resolvi antes escrever sobre os ensinamentos do livro de W. Kim e Renée Mauborgne, “A Estratégia Oceano Azul”, publicado em Portugal pela Actual Editora, uma das melhores editoras de gestão da actualidade.
A grande mensagem deste livro é que a chave para sobreviver no mundo global e competitivo de hoje é, curiosamente, deixar de concorrer.
Surpreendidos? Pois bem, esta mensagem é só uma surpresa à primeira vista.
É aliás uma mensagem que vai em total linha de concordância com o meu post sobre “Game-changing strategies“, onde o Prof. Costas Markides da London Business School defendia exactamente a mesma tese:
Para quê consumir recursos, energia e tempo a tentar ser melhor que milhares de concorrentes directos, a tentar fornecer melhor algo que tantos têm para oferecer, alcançando incrementos de competitividade perfeitamente marginais (bem como os ganhos daí resultantes!), quando o ganho potencial é muito maior se oferecermos algo de radicalmente novo e diferente aos nossos potenciais clientes?
O conceito de “red ocean” é precisamente correspondente ao primeiro cenário apresentado: um oceano cheio de tubarões, que lutam pelo mesmo naco de carne, e que pouco conseguem ao competir contra tantos, num mar vermelho de sangue (competição tradicional).
Quando se afirma que o segredo é deixar de concorrer, não se entenda com isso deixar de ser competitivo. É exactamente o contrário: é ser mais competitivo, com o dispêndio do mínimo de esforço e recursos possíveis, centrando o investimento na inovação e não na concorrência.
É a estratégia do “blue ocean”, ou seja, partir para novos mercados, em que a concorrência é pouca ou nenhuma, especialmente se formos capazes de criar novos mercados! Aí, o mercado assemelha-se a um oceano azul por desbravar, onde não prolifera a cor vermelha do sangue derramado na luta contra a concorrência.
Claro que ela aparecerá sempre, mais tarde ou mais cedo. Logo, a estratégia sustentadamente vencedora não é partir para a estratégia do “red ocean” quando a concorrência chega, mas sim continuar a desbravar novos “blue oceans”, ou seja, gerar um ciclo de inovação permanente.
Isto depende acima de tudo dos talentos que consigamos ter dentro de casa, claro está…
O que me levou a pensar imediatamente numa das empresas que melhor faz isto: a Google, Inc.
A Google dedica-se permanentemente a gerar novos produtos e serviços, testando-os experimentalmente e contando inclusive com os utilizadores (clientes) como beta-testers. Para perceber a sua dinâmica de lançamento de novos produtos, basta ir ao Google Labs!
Não é por acaso que a Google investe tanto na inovação, na captação de talentos e na criação de condições para promover a criatividade. A Google sabe que disso depende a sua sobrevivência a prazo: só a capacidade de criar valor novo percebido continuamente, em plena cumplicidade com os clientes poderá garantir o sucesso de forma sustentada.
Sabiam que na Google os trabalhadores têm 20% do tempo de trabalho disponível para ser dedicado aos seus projectos pessoais? Parece parvoíce? Não: a Google sabe que é geralmente daí que nascem as mais loucas ideias novas que podem lançar os mais interessantes novos produtos do seu portfolio.
Pois é: parece que voltamos ao potencial por explorar que os nossos cérebros têm, e que é sem dúvida o mais valioso capital das organizações.
Assim o saibamos aproveitar…
Para quem quiser saber mais sobre esta perspectiva, analisando os economics por trás do caso da Google, não deixem de consultar a brilhante análise feita por Victor Cook, no seu post Google vs. Microsoft: Crossing the Blue-Ocean, Red-Ocean Divide, em que é feita precisamente a comparação entre a Google e o super-gigante Microsoft: uma verdadeira delícia, com gráficos e tudo!
Não deixem também de ver o conjunto de vídeos que encontrei no Youtube sobre a Google e sua forma de trabalhar. São uma verdadeira lição e uma potente inspiração para todos nós.